Ao escrever o livro Discurso sobre o Método, o filósofo René Descartes tentou disciplinar a ciência a partir do método, extraindo tudo que fosse de caráter especulativo e obtendo apenas a verdade, o concreto. Para tal, utilizou a dúvida, a razão, a matemática e a ordem como ferramentas norteadoras. Para Descartes o método seria um instrumento, que bem manejado levara o homem a verdade, para que nunca se aceitasse o falso por verdadeiro, jamais deveria acreditar em nada que não tivesse fundamento para provar a verdade.
O filósofo propunha a fragmentação do objeto de estudo a fim de melhor entender, compreender, estudar, questionar, analisar, criticar, o todo, o sistema, experimentando-os na esfera da ciência e da razão, ou seja, estudá-las empiricamente, cientificamente, historicamente e racionalmente. Embora na teoria tudo pareça tão coerente, na prática nada assegura que durante a fragmentação do objeto não haja perdas de informação. Pois nossa passionalidade pode agir de modo inconsciente tolhendo nossa racionalidade, de modo a atender nossas vontades.
O método mostra-se eficaz para determinação de uma verdade científica, indubitável, porém é relevante ressaltar que nem tudo pode ser traduzido em uma verdade científica, absoluta. As vezes, o que entendemos por verdade não passa de metáforas. Indo um pouco mais longe, e considerando que a verdade seja uma mentira coletiva, nada nem ninguém nos asseveraria que no momento de estabelecimento da verdade não estabelecê-la-íamos como sendo tal mentira, que para todos é amplamente plausível e incontestável. Também podemos considerar o tempo como um agente modificador da verdade, pois até mesmo verdades científicas tornam-se inverídicas com o passar do tempo.
Portanto, nota-se que o Discurso sobre o Método, de Descartes, é válido para organização e disciplina da ciência, bem como da pesquisa científica. Porém não é imune à falhas, haja vista que onde há humanidade, há passionalidade e consequentemente há interferência na racionalização dos eventos e objetos de estudo, pois nem mesmo as máquinas criadas pelo homem são capazes de distanciar-se totalmente do objeto durante a experimentação empírica.
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